Tentativa de burlar princípios ESG pode respingar até em quem os leva a sério!
O ESG está por toda parte. A preocupação com questões ambientais, sociais e de governança – environment, social e governance no inglês, daí a sigla – tem permeado empresas, sociedade civil, instituições governamentais ou não e muitos outros agentes. Seja por meio da pressão do público consumidor, seja de investidores, seja por adesão própria das empresas, seja pela busca de impacto positivo, são muitas as razões para se ter práticas alinhadas com os princípios de ESG – e pouca, talvez nenhuma, escapatória.
Ainda assim, há empresas e instituições que tentam burlá-los. Por descaso ou má-fé, por engano ou (o mais provável) de caso pensado, elas procuram meios de ganhar dos dois lados: ter acesso aos ganhos financeiros e reputacionais de quem segue os princípios ambientais, sociais e de governança, mas não arcar com os custos do comprometimento. Por exemplo, quando se usam termos vagos, genéricos, para dar a ideia de que um produto é sustentável. É uma preocupação com ESG “para inglês ver”, como diria a expressão popular – ou, para usar um termo mais técnico, é o que se chama de Greenwashing.
“É uma forma de enganar o público”, diz Guilherme Lacerda Silveira, coordenador de Gestão de Informações da AML Reputacional. “A empresa se diz preocupada com ESG, mas maquia, esconde, omite informações na hora de passar para o mercado e a sociedade. Uma ‘mentira verde’.” Apesar de o nome dar mais destaque ao aspecto ambiental, Silveira esclarece que o Greenwashing não se restringe a isso – também abrange a parte social e de governança. “Olha-se para todo o impacto que a empresa tem, as ações dela em relação ao seu entorno, à comunidade onde ela está localizada, se faz campanhas de inclusão, entre outras ações – tudo isso pode ser alvo de Greenwashing.”
O problema, no entanto, não termina na hora da auditoria, com a identificação de empresas envolvidas com Greenwashing e a correção de suas práticas, como se fosse suficiente apontar agentes isolados. É preciso, na verdade, um pensamento ecológico: essas empresas compram ou vendem matéria-prima, produtos e serviços para outras; o dano à reputação, portanto, pode respingar por toda a cadeia.
Como se prevenir
Quem leva a sério o compromisso com os princípios ESG sabe que se trata de um esforço contínuo. Em duas frentes: interna e externa. Se a primeira pode trazer mais tranquilidade na hora da diligência, por envolver áreas conhecidas ou no mínimo com que se tem alguma familiaridade, a segunda talvez concentre boa parte dos riscos. Tanto na hora de estabelecer um novo negócio com empresas ainda a se conhecer, quanto na hora de acompanhar os contratos já estabelecidos – afinal, pode acontecer de uma empresa, por mais zelosa que fosse antes, acabar se envolvendo com Greenwashing mais adiante.
Uma forma de diminuir ao máximo os riscos é consultar bases de dados e listas que contenham informações abonadoras e desabonadoras a respeito das empresas em questão. Só assim é possível ter uma diligência assertiva em relação às boas práticas delas. Uma das opções disponíveis está bem à mão: o módulo ESG da ferramenta AML Due Diligence.
Criado em 2016, ainda com o nome de Informações Socioambientais, o módulo se pauta na Resolução 4945 do Banco Central, sobre a Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática. O seu foco é justamente o cuidado nas relações com terceiros, a fim de conhecer melhor e monitorar as empresas com que os clientes considerem estabelecer ou manter um negócio.
Silveira explica que o módulo reúne, tabula, analisa e disponibiliza informações a partir de diferentes fontes. Uma delas é a mídia. “Monitoramos a mídia nacional, com foco nessa temática ambiental e social”, diz. “Tanto para notícias abonadoras quanto desabonadoras.” Assim, o módulo funciona como uma espécie de filtro, trazendo tanto exemplos negativos (empresas envolvidas com crime ambiental, mão de obra escrava, exploração sexual, trabalho infantil), quanto positivos (empresas preocupadas em mitigar seu impacto negativo na sociedade, no meio ambiente, que monitoram a emissão de gases de efeito estufa ou que tem campanhas de sustentabilidade, reciclagem, inclusão).
Outra fonte importante são as listas divulgadas por órgãos ligados a questões de ESG. Também aí se dividem em abonadoras e desabonadoras. Destas, Silveira destaca aquelas produzidas por órgãos como o Ibama e o ICMBio, focadas em embargos e autuações – listas onde, evidentemente, as empresas não querem ser incluídas. Mas também há fontes abonadoras: Silveira destaca as elaboradas pela B3, como os índices de sustentabilidade corporativa.
Desse modo se contemplam, digamos, as duas pontas: tanto as práticas que se deve evitar quanto as que se deve adotar; os maus e os bons riscos. Afinal, não basta apenas apontar o problema; também é preciso buscar soluções. E todo cuidado é pouco: Silveira ressalta que o produto ou serviço oferecido é fruto de toda uma cadeia. “Se a empresa segue tendo negócios com quem não está de acordo com suas práticas de ESG”, diz, “de certa forma é um Greenwashing, porque ela não está colocando em prática de forma efetiva a ideia, as preocupações do ESG”. É como o derramamento de óleo ou de algum produto tóxico no meio ambiente, que pode afetar todo um ecossistema – e que se deve evitar a todo custo.
Referências
Entrevista de Guilherme Lacerda Silveira à redação.